este não é um site oficial de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos ULtimos Dias,

sobre mim


                                      HISTORIA  DA  FAMILIA  GRILLO  (GRILLO’S FAMILY HISTORY)

                                                                    

                                                                                  Nasci de bons pais; em uma família humilde de poucas posses, no dia vinte e seis de junho de mil novecentos e sessenta e três (26/06/1963). Morávamos em Arcadas (antigamente conhecida como Coqueiros), que era distrito da cidade de Amparo, no estado de São Paulo, Brasil.

                                                                                  Lembro-me de morar em uma casa grande com varandas; portão de madeira, estrada de terra a meia distancia do centro da cidade. Os detalhes da casa que me lembro é que na parte dos fundos perto da cozinha havia um enorme fogão a lenha, onde ainda criança, nos aquecíamos e esperávamos as refeições.

No quintal havia os chamados terreiros de café; que eram grandes espaços cimentados onde se colocava o café apanhado na roça para secar ao sol. Havia também um grande pomar com frutas, um paiol para armazenar milho, um galinheiro e um pequeno chiqueiro para criar porcos.

Nos fundos do terreno havia um pequeno riacho onde minha mãe lavava roupas em uma tabua colocada na margem e onde eu pescava as vezes; do outro lado das margens passava o trem, havia também no terreno um poço de onde retirávamos agua.

Da parte interna da casa, só me recordo que os colchoes onde dormíamos eram feitos de palha de milho e eram barulhentos; acima de cada cama, pendurado na parede com pregos, havia a foto de um “santo”, o da minha cama era São Lazaro, mas era uma foto assustadora e eu nunca me sentia bem vendo aquilo.

Da parte externa lembro-me de muitas brincadeiras quando criança; muita correria pelo terreiro, certa vez jogando malha[1] com a vizinha que era parente (seu nome era Rosana), ela atirou a malha muito alto, atingindo minha cabeça, onde provocou um corte e saiu muito sangue. Minha mae me colocou em uma cadeira e foi limpando o ferimento com álcool, foi quase um litro em minha cabeça.

Brincávamos de bola, corríamos em volta da fogueira nas festas juninas, o terreiro era também um lugar onde os adultos se reuniam para conversar e ensinar (era como uma reunião familiar), falavam sobre serviço e uns aprendiam com os outros através de conselhos. Havia uma hierarquia, muito respeito, união e amor, nós crianças sentíamo-nos completamente protegidos.

Meu pai chama-se Alcides Grillo, nasceu em Serra Negra aos dois de julho de mil novecentos e vinte e sete (02/07/1927), casou-se com minha mãe em vinte de maio de mil e novecentos e cinquenta (20/05/1950); com vinte e três anos de idade na cidade de Amparo, teve sete filhos e faleceu em vinte e oito de maio de dois mil e um (28/05/2001), aos setenta e quatro anos de idade com problema respiratório crônico. Papai não tinha escolaridade; pouco sabia escrever, por causa disso trabalhava na prefeitura de Pedreira como motorista de caminhão de lixo; mas nos ensinou a respeitar os mais velhos e a sermos honestos. Aprendemos muito sobre trabalho e também sobre hierarquia do lar com ele. Não era homem de ficar falando que nos amava, mas nós sabíamos que ele nos amava mesmo quando nos repreendia, sempre nos incentivou e aconselhou a estudarmos.

Recordo um dia em que papai chegou com o rosto e cabeça todo enfaixado porque um colega de trabalho ao se assustar com uma lata de combustível em chamas em sua mão atirou a lata para cima e atingiu meu pai, quando vimos nosso pai daquele jeito ficamos muito assustados. Papai gostava de jogar baralho com os amigos, e as vezes ele bebia um pouco; certa vez ele caiu da escada de casa (outro susto). Papai sempre foi muito bom, o que fazia mal a ele era a bebida e o cigarro, que o levou a morte.

Mamãe se chama Albina Piassa Grillo, nasceu em oito de outubro de mil e novecentos e vinte e sete (08/10/1927) em Monte Alegre do Sul, com pouca escolaridade também, sempre foi uma mãe exemplar e domestica muito religiosa, busca a DEUS pedindo por todos os filhos e noras até hoje. Minha mãe disse que os avós dela vieram para o sertão aqui no Brasil por volta de 1935 quando ela tinha 7 anos; ela recebeu esse nome em homenagem ao avô que se chamava Albino Piassa e que veio de Mantoa ou Mantova, de Veneza na Itália por volta de 1900.

Segundo minha mãe, Albino tinha alguns problemas de ordem espiritual (parece ter sido enganado e isso o deixou bastante abalado) e Remigio que era o filho mais velho, desde pequeno teve que ajudar a criar os outros filhos. Jacó que era um dos irmãos mais novos de Remigio matou-se cortando o pescoço na sala de sua casa.

De acordo com o relato de minha mãe, o meu avô Antonio Grillo que era sogro dela teve problemas com uma cigana que o enganou, “amarrou os panos” [2] e tomou-lhe o dinheiro, em outras palavras; aplicou um golpe e se mandou. Alguns conhecidos nossos (Aloisio Marchiori) relataram que meu avô possuía muitas terras em Arcadas, mas com a revolução industrial acabou vendendo as terras e comprou muitas casas em Pedreira, onde foi dando uma para cada filho e as que restaram foram partilhadas como herança. Já os meus pais e tios não conseguiram gerar riquezas trabalhando nas indústrias, e cada um de seus filhos tiveram que ir comprando suas casas com seu próprio esforço.

Em 30/10/2007- minha mãe contou do sofrimento por que passaram em sua infância, mas não falou com magoa desse tempo; mas sim comparando com os dias atuais, como ex: naquele tempo para ir a igreja aos domingos, caminhava-se por muitos quilômetros por campos, caminhos estreitos a beira das matas, lugares alagados e estradas de terra, e muitas vezes com o calçado nas mãos até a porta da igreja para não sujar o calçado. As vezes o pai os acompanhava a cavalo por causa dos animais no caminho (pequenos animais) e quando retornavam já tinham um panelão enorme de comida esperando por eles. E tudo era feito com alegria e amor. Observe-se que tinham alegria apesar do sacrifício, e tinham a luz de Cristo em suas vidas por fazerem essas coisas com amor.

Hoje, muitas vezes a igreja fica a um quarteirão de casa, muitas vezes as pessoas tem carro e não vão a igreja, e muitos dos que vão, parecem fazê-lo de má vontade; nada aprendendo e em consequência possuem uma vida obscura e de sofrimento. Não possuem a luz de Cristo por não fazerem todas as coisas por amor.

Na minha infância, recordo-me de minha mãe ter expressado o desejo de que algum dos filhos seguisse o caminho religioso e se tornasse um padre ou algo parecido, era como um pedido à DEUS que ela fazia, e sempre olhava para mim quando dizia isso, mas eu não cresci tendo isso como meta. Acho que a minha recordação mais antiga é quando eu tinha uns quatro anos e ia junto com meus pais para a roça de café, e meus irmãos apanhavam o café e eu brigava com eles porque eu queria segurar a peneira e peneirar o café, mas eu não tinha forças para fazer o trabalho nessa idade, nós levávamos comida em marmitas e café em garrafas de vidro e quando íamos comer estava tudo frio. Comíamos sentados a sombra dos pés de café.  Lembrando mais sobre a minha infância, o meu primeiro dia de aula na escola Coronel Joao Pedro de Godoy Moreira em Pedreira foi quando eu tinha seis anos e meio, e quando o professor começou a dar os primeiros riscos para a gente fazer, eu apesar da idade fiquei completamente apaixonado pelo estudo, ali eu senti que poderia aprender de tudo sobre todas as coisas através da leitura e da escrita.

E esse mesmo sentimento carrego comigo ate hoje, a minha vontade de aprender não diminuiu nada, só tem crescido com o passar do tempo. Lembro-me do primeiro nome de alguns professores que tive: Dª Dalva de português; Senhor Rosasco de desenho, Senhor Guerra de matemática, Dª Neuza a diretora. Eu gostava bastante das aulas de ginastica e basquete e me esforçava bastante para aprender. Certa vez eu estava treinando para uma competição de salto em altura, porque eu sempre fui alto para a minha faixa de idade, mas acabei parando o treino quando um garoto menor em tamanho conseguiu saltar mais alto que eu.

Viemos morar em Pedreira quando eu tinha 5 ou 6 anos de idade, nós íamos a escola e levávamos lanche de casa embrulhado em um guardanapo para comer no recreio; pão com ovo frito era meu preferido. Lembro-me de um dia ter levado banana na bolsa, como éramos crianças e brincávamos muito no caminho da escola, quando cheguei na sala de aula e abri a bolsa, a banana estava toda amassada e sujou todo o material escolar, isso foi muito engraçado, lembro também que meu pai costumava comprar no Natal bolinhas de gude (de vidro), revolver de espoleta, caminhãozinho de madeira.

Eu jogava baralho com os vizinhos na calçada, frequentava o clube náutico Joaquim Carlos na “prainha” em Pedreira, mas sempre fazia a as tarefas assim que chegava em casa, antes de ir brincar, eu gostava muito de ir no mercadinho para as minhas cunhadas, isso me fazia sentir útil e eu sentia alegria ao servir. Nossa casa em Pedreira não era muito boa; chovia dentro, o piso era de lajota, tinha que passar cera que era preparada com gasolina pela minha mãe e o piso era irregular, tínhamos que dividir a casa de 9 cômodos com um inquilino. Mas conforme os irmãos mais velhos começaram a trabalhar, meu pai foi arrumando a casa. Primeiro o telhado, depois o piso e depois o reboque, isso levou vários anos, lembro-me de ter que ajudar meus irmãos na pintura e conservação da casa.

Aos quatorze anos de idade tive que deixar a pratica de esportes para estudar a noite e trabalhar durante o dia. O engraçado é que meu primeiro emprego durou umas duas horas só, mesmo que o meu instrutor se colocou a disposição para me ajudar, me senti tão incapaz que fui embora e não tive mais desejo de voltar. Mas era uma época que você saia de um emprego e no dia seguinte já conseguia outro, mesmo sem instrução.

Como atividade extra curricular, eu comecei a ter aulas de datilografia em 1980 recebi o certificado e eu era muito rápido para escrever e aprender, eu digitava cerca de 75 palavras por minuto, os professores gostavam disso. Era uma época que eu ia bastante à igreja, nos cursinhos de “crisma”, “primeira comunhão”, mas o meu crescimento espiritual era muito lento, por falta de conhecimento dos nossos orientadores e lideres religiosos. Na verdade até hoje não consigo entender aqueles ensinamentos, eu não sentia que existia DEUS. Eu acreditava e aceitava tudo o que era ensinado, mas o que me foi ensinado é que DEUS era um espirito muito distante e que ninguém podia alcança-lo e toca-lo.

Eu não entendia como podia existir um DEUS tão bom e poderoso, mas que era inacessível e intocável. Eu achava que alguma coisa estava errada, mas eu não sabia o que; cheguei até a pensar que eu era de outro planeta, ou que tinha nascido em época errada, mas nunca fui tao fanático a ponto de não querer ouvir as outras religiões; cresci com a mente aberta. Apaixonado pelo sol e a lua, gostava de caminhar na chuva, sempre apreciei as flores, animais de estimação, pessoas boas e principalmente a família.

Se alguém pronunciasse o nome de minha irmã com tom de zombaria ou piada de mau gosto, já era motivo para defende-la, eu gostava muito das musicas do Sergio Reis, o menino da porteira, filho adotivo, etc... só conheci a televisão em nossa casa a partir dos oito anos de idade, e era preta e branca. Lembro também de um trabalho de escola que tínhamos que construir um instrumento musical; e o instrumento que eu queria fazer, a minha família não tinha condições de comprar o material para fazê-lo e minha mae deu a ideia de fazer um reco-reco com bambu gigante. Foi o que eu fiz, mas antes eu chorei bastante porque não sabia onde encontrar o bambu, e eu queria fazer o trabalho. Quando um amigo me ajudou e me deu o bambu, fui pintar com verniz, mas o vendedor me deu tinta cor de laranja, e o instrumento ficou feio, mas entreguei assim mesmo e ganhei nota pelo trabalho.

A lembrança mais doce que guardo da minha infância e tenho essa imagem bem nítida em minha mente até hoje, é do meu avô Antonio Grillo, chamado de “nono”. Um senhor de cabelos brancos com um chapéu de palha na cabeça, um cigarro de palha atrás das orelhas, pés descalços e rachados em volta, sentado nos degraus da escada da cozinha com uma bíblia bem velha de folhas amareladas, onde ele lia algumas historias para mim que tinha entre 6 e 7 anos.



[1] [a malha é um disco de ferro mais ou menos do tamanho da palma da mão, que jogávamos para tentar derrubar o sabugo de milho que ficava no chão a certa distancia a nossa frente].
   
[2] Amarrar os panos era uma expressão usada pelos antigos.